segunda-feira, dezembro 27, 2010

Sim ou não


Poderia ter dito: não venhas. E seria tudo mais fácil. Seguiria os dias, cumpriria as tarefas com um meio sorriso de satisfação que nunca me encheria o coração e regressaria todos os dias a casa acompanhada pela solidão. À noite, regozijar-me-ia pelas energias positivas que o isolamento me tinham trazido, tentando convencer o outro meio sorriso. Mais tarde, recordaria as memórias dos outros e tentaria acalmar a quietude que teima em transbordar do seu limite. Nesse momento, desejaria aquiescer apenas a todas as perguntas difíceis e complexas que me coloco e partir para outra dimensão. E seria certamente mais fácil.
Poderia ter dito, mas não disse.

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Basta olhar

Segundo a minha forma prática de ver a vida e numa definição muito simplista, sempre que há uma dúvida, bastará olhar para dentro de nós e procurar e vamos encontrar as respostas. Sei disso. É ponto assente. Mas se olharmos e procurarmos e não encontrarmos a tal resposta? Quer dizer o quê? Que não amadurecemos suficientemente a ideia e por isso não está interiorizada o quanto baste? Há dias que temo que não seja só isso.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

Procura-se destino...


Suponho que haverá um destino para cada um de nós. Ou mais do que um, quem sabe? Um destino que traçamos, um destino do qual nos afastamos e mais um que os outros dizem que nos está reservado. Acho que passei os milhares de dias que tenho a acreditar em dois destinos, um que me assustava por se apresentar vestido de banalidade e um outro que não me deixava tirar os olhos dele. Aparecia sempre muitíssimo entrosado com a audácia e havia sempre um élan de mistério que me fazia ansiar por o alcançar. Em todos esses dias, resisti estoicamente ao banal, que sempre se mantinha por perto e continuava, sem sequer me preocupar com a tangibilidade do outro. Em todos esses dias, acreditei.
Hoje, não encontro nenhum deles... Sinto que os perdi e vejo-me vagamente calma por isso.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

E agora? Tenho ou não tenho razão?

Jornal britânico "Sunday Times" distingue novamente os Deolinda


O mais recente álbum dos Deolinda, “Dois Selos e um Carimbo”, está entre o Top 10 dos Melhores Álbuns de World Music e Jazz do “Sunday Times”.


No Top 10 em questão figuram também registos de Seu Jorge, Fela Kuti, Angelique Kidjo e  Amira & Merima Kljuco.

Recorde-se que esta não é a primeira vez que o colectivo de Ana Bacalhau é distinguido pela publicação britânica. O álbum de estreia dos Deolinda, “Canção ao Lado” foi também, no ano passado, destacado pelo jornal como um dos dez melhores álbuns de World Music e Jazz editados ao longo do ano.

Retirado daqui.

Resumindo, o que é que é necessário para ter sucesso no estrangeiro????  Ter talento!!! Decididamente, não será cantar em inglês que faz a diferença.

terça-feira, novembro 30, 2010

É urgente...

É certo que se diz que viver implica riscos, tiros no escuro e actos mais ou menos desesperados, que justificamos como uma atitude de procura de felicidade. E, quase sempre, nessa busca que algumas vezes consideramos como infrutífera, agimos como se a felicidade fosse um tesouro escondido numa escarpa perigosíssima de uma ilha remota rodeada de perigos, num qualquer local mal assinalado no mapa e que escapou ao frenético movimento fotográfico do Google Maps. E continuamos dia após dia, numa atitude de aparente cegueira a descartar sensações e sentimentos, a ignorar momentos únicos e a resistir a uma gargalhada franca, um abraço amigo ou um sorriso de cumplicidade.
É urgente olharmos à nossa volta, dedicarmos atenção a pequenas grandes coisas, agradecermos a nossa incontável riqueza e sorrirmos, por opção.

quinta-feira, novembro 25, 2010

Às vezes o amor



"Vou-te dizer
A luz começou em frestas
Se fores a ver
Enquanto assim durares
Se fores amada e amares
Dirás sempre palavras destas  (...)"

sexta-feira, novembro 19, 2010

Meant to be

Ultimamente, a sensação diária dá pelo nome de "meant to be". E acabo por perceber que não é má, que me reconforta, me deixa mais confiante e me dá vontade de me manter neste patamar. Porque a esperança é que a tal sensação passe a ser conhecida por “meant to be happy”.

quinta-feira, novembro 18, 2010

30 anos de carreira

Eu fui !

30 anos de carreira não é para todos.
30 anos de carreira com êxitos que são cantados a plenos pulmões por toda a assistência do Coliseu, muito menos.
O Rui Veloso, como seria de esperar, fez-nos sonhar, fez-nos reviver emoções antigas mas tão presentes, cantar, aplaudir de pé e mesmo dançar (os mais entusiastas). A partilha era evidente entre a audiência que se encontrou num plano comum e entre ele e a audiência, que respondia a cada início de música. Foi mesmo muito bom e acredito que melhor só mesmo a comemoração dos 50 anos de carreira dele :-)  ! Fico à espera.

segunda-feira, novembro 08, 2010

Embirração


É verdade que embirro com cantores portugueses que cantam em inglês. O problema não é eles cantarem em inglês, é não cantarem em português.  Se eles cantassem em Suomi ou em Polaco, a minha opinião seria a mesma. Tal como o FP, para mim "A minha pátria é a língua portuguesa" e sempre que ouço vozes nacionais que não cantam em português deixo de ter vontade de as ouvir. Não adianta dizerem-me que o objectivo é uma estratégia de internacionalização porque nem sequer acho que isso justifica coisa alguma. Simplesmente, quanto a mim, ser português, querer chegar ao público (ao português e ao do resto do mundo) e não cantar em português por opção, não está com nada. Por isso, passam-me completamente ao lado os repetidos êxitos do David Fonseca (sim, eu sei que ele é talentoso, nunca direi o contrário) e fico tão reticente quando ouço a Rita Redshoes.

sexta-feira, novembro 05, 2010

sexta-feira, outubro 29, 2010

Sono

Percebo agora que divido cada segundo em milésimos de desatenção e deixo de conseguir concentrar-me. Vagueia-me a mente por campos dourados por espigas de trigo, pressinto o sorriso e deslizo para outro local onde o sol empresta brilho às ruas de casinhas brancas, escrupulosamente arrumadas por alturas. Não deixo de sorrir, pelo contrário. Há um torpor agradável que me percorre o corpo e me coloca num estado de quase letargia. Apetece-me fechar os olhos e permitir que o alento se metamorfoseie em concha onde possa dormir nas próximas horas.

sexta-feira, outubro 22, 2010

Quem disse que agora ia ser diferente?

Quem disse que agora ia ser diferente?

Sento-me, recorto as palavras e faço-as deslizar para o exterior. Depois espero o feedback. Chegam movimentos convencionais e açucarados, chegam sobressaltos e intranquilidades, chegam réstias de bom humor que me cercam e me alvitram que as receba de bom grado. Analiso-as sem filtro, sem passagem pela alma e sinto as pálpebras pesarem novamente. O cansaço entorpece-me os movimentos, retarda-me a reacção. O medo e a intangibilidade da fasquia tolhem-me a fluidez do discurso e interferem na expressão facial.

Levanto-me e resisto, como sempre.

segunda-feira, outubro 18, 2010

Grão de areia

E depois vem o dia em que compreendemos que a história de sermos um grãozinho de areia num deserto faz todo o sentido. Não é ser um grão de areia no sapato de alguém, nem um grão de areia numa engrenagem ou num bolso do saco da praia. É termos mesmo a consciência que não somos mais que uma parte constituinte desse tal deserto. Se desaparecermos, não comprometemos a sua existência, faremos apenas falta a alguns que nos conhecem. E no espaço onde cabíamos, algo mais virá para se lá acomodar. Nessa sequência, vem a certeza de que os feitos dos nossos dias pouco mais implicam que a nós, não perturbam a ordem do Universo, não atrapalham o correr do sangue nas veias dos outros. E após a perplexidade inicial virá certamente a percepção de que todas estas constatações acabam por não ser necessariamente negativas.

quinta-feira, outubro 14, 2010

Menino do Rio

Nostalgia... de dias despreocupados, de descobertas diárias e de um sorriso tímido.

terça-feira, setembro 28, 2010

Déjà vu


Sensação de
Déjà vu,
              Déjà vécu,
                              Déjà senti,
                                             Déjà visité
impregnada na pele.

sexta-feira, setembro 24, 2010

Multifacetado

Nunca quis mais que ser um sucesso… entre todos, em tudo.
Nos dias mais escuros, vejo-me a roçar o fracasso e quero desesperar.
Não era essa a linha que quero tocar.
No entanto, no acumular dos dias de convivência com os amigos do fiasco acabo por me senti reforçada.
Nada fazia prever que apreciasse verdadeiramente os instantâneos díspares de um sonho por cumprir.
Naquele naipe de desencontros há âmagos coincidentes com o meu.
Nos dias radiosos, em que o impulso de avançar só é comparável à sinceridade do sorriso, acredito ter chegado a bom porto.
Não prevejo qualquer desalinho.
Nego as expressões de dúvida e as personificações do negativismo.
Nos outros dias, acredito no futuro.
Na incerteza de dias que não conhecemos.
Na certeza da surpresa….

quinta-feira, setembro 23, 2010

sexta-feira, setembro 17, 2010

Cintilante



Parece que sim, que é verdade. Que os meus olhos cintilam sem eu dar por isso. Que passo os dias com a cabeça nas nuvens, mas os pés sempre assentes na terra.


E afinal é tão reconfortante sentir-me assim... cheia de sonhos, de energia, de vontade de flutuar, de me render aos encantos das ideias novas, dos dias que chegam carregados de desafios e de pequenas ironias.

segunda-feira, setembro 13, 2010

sábado, setembro 11, 2010

De exigência apenas...

Sujeitava-me a exigir apenas. Sem contemplações. Exigir de mim, exigir de outros, exigir do mundo. Era sempre urgente exigir. Exigia na inflexão de voz, na rigidez dos modos, no movimento inquieto dos gestos, na pressa com que caminhava, na estreiteza das razões que me moviam. Exigia-me retraída, de gestos presos e desarmoniosos. Cercava-me de reservas e de angústias, de flores de jardins alheios, de amargores e exigia-me inteira, de cabeça erguida, sem lágrimas nos olhos, de ombros direitos. Exigia-me sem interrogações.

segunda-feira, setembro 06, 2010

Castelos de areia

Ultimamente reflicto todos os dias no quão ridículas se podem tornar as frases feitas, a que pomposamente chamava ideais, que me serviriam de directrizes de vida. Um dia, quando menos esperava, vejo-as postas à prova pelos factos da vida real, aquela que nos chega ao vivo a e cores, sem filtros, sem teorias empertigadas. Assim, sem aviso prévio, sem o tempo necessário para me recompor e desatar a construir tapumes para defender os preciosos ideais. E quando me pergunto hoje o que penso sobre esse facto, só poderei responder: que venham mais desafios! Estarei pronta para os enfrentar...

segunda-feira, agosto 30, 2010

De volta

Voltei, depois de alguns dias de férias e de umas longas semanas de trabalho. Aproveitei para mudar a oupagem do blog porque não conseguia adaptar-me à outra. Era, sem dúvida, muito mais apelativa mas não a sentia adequada ao meu Cor de Sonho.
Até breve

sexta-feira, julho 23, 2010

Coisas

Coisa pode ser tanta coisa. Coisa pode ser tudo e eu, mesmo assim, queria substantivar coisas. Queria vê-las encorpadas, a andar por seu próprio pé. Sabe sempre bem ver diante de nós, a nossa obra. Será um supremo exercício de narcisismo segundo alguns, um orgulho desmedido para outros. Para mim, será só a constatação da capacidade de criar…

sábado, julho 17, 2010

Decisão # 1

Sobram-me sonhos e falta-me tempo. A ideia é começar a correr atrás dos tais sonhos... será que consigo?

sexta-feira, julho 16, 2010

Premência

Desdobro-me em duas assim pela manhã e sigo. Em modo automático. O mesmo caminho, o café de sempre, os rostos e as gargalhadas uma e outra vez. Os gestos repetidos. As rotinas de todos que se apressam naquela elipse de tempo e dos outros que assistem com um sorriso ao desfilar de cadências diferentes, servos de um outro modo, o da espera. Os mesmos minutos que antecedem outro ciclo do tal modo, o automático.
Ouço as criticas, os comentários jocosos, os palpites algo descabidos. Absorvo a correnteza de informação que me chega a todo o momento. Sorrio e tento sempre ripostar, às vezes magoada. Será a minha imagem de marca, não deixar ninguém sem resposta. Atento em como algumas pessoas tentam a todo o custo catalogar-me e arrumar-me num recanto qualquer da vida delas onde guardam quem querem que esteja à mão, nem sempre pelas melhores razões.
Reflicto uma e outra vez e sei que cheguei a todas as conclusões necessárias. Há que escolher… Tudo está claro, não há volta a dar, só não haverá a coragem necessária talvez. Se não fosse tão severa comigo diria que não me quero precipitar e sei que esta versão tem um quê de verdade.
Imagino todos os dias como será depois, como será apanhar o ritmo a pulsares novos e diferentes. Sinto já os olhares de despeito, de censura e de incredulidade que emoldurarão algumas faces.
Respiro fundo. É premente a decisão. Respiro fundo novamente.

quarta-feira, julho 14, 2010

Com um brilhozinho....


Sempre...

Verão

Hoje lembrei-me que este dia poderia ser um grande dia. E será, com certeza, para muitas pessoas ...
Será uma verdade de "La Palisse", mas é uma verdade, que merece ser dita e repetida a todas as horas do dia.
Amanhã a frase a fixar será: hoje será um dia melhor que ontem.

(reflexões embrulhadas em divagações por parte de alguém que pretende fazer deste Verão o melhor Verão de sempre... até chegar o do próximo ano)

quinta-feira, julho 01, 2010

Bola de sabão

Ei-la a dar voltas e voltas, a fazer piruetas sem sair do mesmo sítio. Repare-se como se pavoneia, se espaventa, se despe e veste com infindáveis artifícios, como esbraceja e gesticula incansavelmente.

Ei-la a sorrir, depois a rir discretamente para terminar num gargalhar intenso. Repare-se no reportório interminável de palavras que quase vomita, no arfar do seu peito, na ênfase que coloca no seu discurso.

Ei-la ansiosa, oprimida pelo medo de falhar, perpassada pelo pânico de se alvitrar a sua insignificância.

terça-feira, junho 22, 2010

Círculo vicioso

Quer tu o digas, quer eu o diga, esse não será sempre uma rejeição.
E sinceramente, não lido bem com essa condição.
Dilacera-me o sentir, entorpece-me a razão.
Insisto no outro eu, no que não conhece barreiras quando precisa lutar.
Repito gestos embotados, que parecem nunca resultar.
Ressalvo-me, ressinto-me, enquanto tropeço em mim.
Multiplico ânsias e esforços para varrer a sombra de desilusão.
Soletro o não.
Assumo a negação e a solidão.

sexta-feira, junho 18, 2010

Que palavras escolher??????

O escritor português e Prémio Nobel da Literatura em 1998 José Saramago morreu hoje aos 87 anos em Lanzarote.
in Público

Sinto-me perdida. E agora? E amanhã como será?
Para além do sentimento de perda, sei que estarei em harmonia com milhares de pessoas que, no mundo, também o idolatravam.
Sinto que não quero ouvir a verborreia mental de algumas pessoas que virão debitar para praça pública frases feitas e ocas de sentido. Que se calem os pseudo-intelectuais que duvidavam do seu talento! Que se calem todos os que diziam que o compreendiam mas questionavam as suas afirmações, a clareza das suas ideias. E que se calem de uma vez por todas, quem discorre sobre a sua obra e nunca leu uma só linha escrita por ele! Que se calem que o momento é de respeito!

quarta-feira, junho 16, 2010

Em construção

Primeiro experimentei deslizar e encaixar-me. O espaço era estreito, sem janelas, o ar sufocante. Esforcei-me por encontrar o fio que imaginei condutor. Considerei a hipótese de me aninhar… Mas não, também não. A cada instante, o apelo exterior. O ar que se adensava. Soluçavam ímpetos de curiosidade. Sobrava-me vontade de esbracejar. Corri até à porta que teimava em não abrir. Canalizei a força, a fúria e os rompantes naquele gesto. Vi-me a sorrir ao quase tocar na aura de insubmissão que me perpassava. Dissolveram-se o definhamento e a míngua de descoberta perante o jorro de luz do mundo lá fora. A única certeza é a da importância do ímpeto que me locomove, que incessantemente me agudiza a curiosidade e me impele a lutar pela plenitude de me sentir em permanente construção.

quarta-feira, junho 09, 2010

True colors



True colors (a preto e branco)

terça-feira, junho 08, 2010

Interrupção

Inspiro. Expiro. Voltei. Mas sei que nunca parti. Nesse hiato de tempo, demorei-me a considerar as linhas à minha frente. Imaginei-as circulares e outras vezes oblíquas. Quis que rodopiassem. Qui-las aderentes e compactas. Distrai-me a considerá-las. Fitei-as e... ainda assim, continuam paralelas.

segunda-feira, maio 31, 2010

Desconcentração

Invulgarmente, soube logo que não estava no sítio correcto. Ao primeiro piscar de olhos. Sabia que ali não era mais que um ponto de viragem do desaguar de outros rios. Voltei a cabeça em direcção da rua. As luzes continuavam a perturbar-me. O movimento contínuo de carros deixou-me alheada por alguns momentos. Não distinguia as palavras dos outros, o porquê das perguntas, a necessidade das respostas, o compromisso dos gestos. Concentrei-me no azul. No azul que não era turquesa, que não era petróleo, que não era escuro. No azul da minha camisa, no tecido enrugado, no toque. As vozes insistiam, agora com eco, um pedido de atenção. Sinto a cabeça latejar…

segunda-feira, maio 24, 2010

Equidistância

Entretelo-me entre uma página do livro novo e a preparação do dia seguinte.
Desejo que chova, que o ar quente deixe de me contornar, que tu chegues, que deixes de ser imperturbável.
Saíste enquanto eu dormitava ou nunca estiveste cá.
Vieste dissolver indecisões ou nunca me confrontaste.
Conseguiste barricar negações ou nunca me soubeste.
Entraste de sopetão ou nunca te conheci.
Fecho os olhos.
Emociono-me com a partida.
Anseio pelo sono que sempre demora a chegar.

terça-feira, maio 18, 2010

Incongruências

Debulha-se em lágrimas.
Sorri.
Solta palavras que não ouve.
Dobra o pedaço de papel que lhe surgiu na mão. Desdobra.
Sente que grita. Ninguém ouve.
Sabe-se prostrada. Ninguém vê.
Borbulha-lhe o sangue de impaciência.
Acena que sim. Acha que não.
Baralha o encadeamento.
Falta-lhe chão.
Desconversa. Desconcerta.
Franze o sobrolho.
Parte.
Dispersa-se. Desfaz-se.

quarta-feira, maio 12, 2010

Inflexão

Do alto dos meus saltos altos, espreito-te pelo canto do olho.
Aprecio cada gesto. Admiro a linha de luz que faz o contorno do teu perfil e as cores que sublinham o teu tom de pele.
Descontextualizo-te. Desdramatizo-te. Desligo as intermitências.
Aprovo o arrepio que se aproxima. Arrebanho as inferências que fluem. Apago as reticências.
Imagino-te a seguir-me com o olhar.
Nada me impede. Nada me limita. Não encontro fronteiras.
Mesmo assim, apresso-me e aglomero os excertos da normalidade.
Baixo o olhar.
Suspiro brevemente.
Continuo o meu caminho.

terça-feira, maio 04, 2010

Enquanto quisermos...

Suavizamos curvas, destrancamos portas, afastamos cortinas e instalamo-nos. Acima de tudo, simplificamos. Atropelamo-nos em rascunhos traduzidos em química inesperada. Comparamos cores antagónicas e queremos arrebatar a vivência do outro. Continuaremos a achar que o conforto está do nosso lado enquanto alheados do tal protocolo que teima em ser diariamente gritado por representantes de uma hoste cuja cartilha assenta numa interpretação duvidosa do “Admirável Mundo Novo” de Huxley.

sexta-feira, abril 30, 2010

Sustentabilidade

Não conheço a sustentabilidade dos meus dias. Limito-me a acreditar nela, como quem tem fé. Admiro-a, respeito-a e tento nunca a pôr em questão. Tratar-se-á de uma questão de organização do Universo e nisso não há possibilidade de interferência.

segunda-feira, abril 26, 2010

(Re)ver-te

Um jorro de luz em terreno fértil de imaginação, em solo ávido de grada. Saber-te aí mesmo se não reconheces o traço que delineia o meu sorriso.

segunda-feira, abril 19, 2010

Articulação

Repetem-se gestos, copiam-se frases, acenares de cabeça, trejeitos e até o jeito de falar. É preciso adivinhar o que lhes vai por detrás do esmalte que os faz brilhar. Gritamos e reclamamos mais franqueza, não sem antes sublinharmos a necessidade de não resvalar. É preciso seguir a linha que lhes orienta a locomoção com cuidado. Não soltar as pontas, manter na posição certa, saber quando curvar, saber quando inclinar. Articulam-se palavras que cremos não saber dizer, embalamos quimeras com canções de encantar e lá nos deixamos adormecer.

quinta-feira, abril 15, 2010

Cansaço

Descobrir que a dormência do cansaço cria amarras na minha concentração, que há garatujos de lápis-lazúli a ziguezaguearem à frente dos meus olhos e entorpecimento a ondear pelo meu corpo... Que cansaço rima com abraço, como árvore deveria rimar com sombra ou planícies com calmaria.

quarta-feira, abril 07, 2010

terça-feira, abril 06, 2010

Trajectos

E se há dias em que vemos claramente o caminho a seguir porque ele sempre esteve à nossa frente, outros há em que só vislumbramos encruzilhadas e labirintos. Vemos as dobras do caminho, as ervas daninhas que crescem de cada vez que pestanejamos, o quadrante da luz que desenha a nossa sombra, a direcção do vento que revolve o cabelo e recorta os movimentos. E gostamos do sentido que acompanha o percurso. Gostamos de saber que não sabemos se chegamos ao destino. Gostamos do descomprometimento da jornada e da flacidez que talha a articulação das nossas palavras. Calculamos diariamente os dias que faltarão para o próximo cruzamento, sequiosos de novidade, tementes do amanhã. Vivemos resguardados pela macieza do receio, pela certeza da exiguidade e da estreiteza dos dias. Sonhamos com singularidades de um trajecto que não pensamos percorrer. Reclamamos ideais que estão ao largo de um mar calmo mas que não tencionamos navegar, ou até ao alcance do nosso braço que não queremos estender. Prometemos mudar de vida, mas nem de sorriso mudamos…

quinta-feira, março 18, 2010

pseudo-tudo

Encravo as palavras que te queria dizer dentro do bolso e tento esboçar um projecto de sorriso. Vou fazer de conta que não quero encontrar-te, vou fazer de conta. E, de cada vez que pensar em ti, vou logo a correr sintonizar-me numa onda de obliteração. A coragem parece escarnecer de mim e eu pareço não me importar. Desfaço os laços, mas não desato os nós. Parecem não ter fim, parecem tão comodamente instalados. Parecem fazer parte de uma realidade que só eu não quero admitir. De vez em quando, consigo arrancar uma nano-partícula à coragem quando ela passa a correr por mim, mas esta coragem é nada mais, nada menos que algodão doce e logo, logo, a sinto a esvair-se, a desaparecer entre os meus dedos. Fica só a lembrança, a (pseudo-)vontade, e o faz-de-conta.

quarta-feira, março 10, 2010

Homenagem

Homenagem a todos os tradutores do mundo

"Os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores".

José Saramago

(Sim, sim, a homenagem também é para mim. Faz sempre bem ao ego.)

sexta-feira, março 05, 2010

João e Maria




Quando era miúda, cantarolava-a quase até à exaustão... e ainda hoje, sempre que a ouço sinto uma leveza no ar.

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Palavras para hoje

Entorpecimento
Marasmo
Modorra
Esmorecimento

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

obra de arte

Incontornável, inesquecível, incomparável...

terça-feira, fevereiro 16, 2010

uma questão de pontuação

Estou farta de reticências, deixam-me sempre pendurada, sem saber onde acabo ou onde fico. As vírgulas também não adiantam, atrapalham, estorvam, fazem-me compassar o que devo apressar, o que quero trespassar. E os tais dois pontos, que lembram uma cancela de madeira, por onde espreitamos e que nos obrigam a avaliar se a podemos ou não transpor? Sem falar no ponto de interrogação, que já aparece a encolher os ombros a combinar com a indecisão que sempre traz consigo. Pior ainda é o ponto e vírgula que quase nos engana com o ponto mas sempre se rende ao capricho da vírgula. Quero movimento, emoção ou algum género de definição. Quero pontos finais orgulhosos e decididos. Quero pontos de exclamação expressivos e imperturbáveis!

domingo, fevereiro 14, 2010

A felicidade

Costuma dizer-se que a felicidade vem quando menos se espera.
Pois bem, eu estou a "menos esperar"...

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Sonho … Rêve … Dream

Apetece-me seguir-te. Sim, eu sei que não é prudente, mas apetece-me. Sempre quis provocar a ordem natural dos acontecimentos que espartilham os meus dias. Dar-me-ia um certo gozo desafiar a prudência e correr sem olhar para trás. É que a vontade é grande e terna. Sinto-a a enternecer os meus gestos e a acompanhar o meu sorriso. Sonho-me descalça e feliz, com sol e nuvens, com fórmulas de leveza a fervilhar-me na mente. Apetece-me agarrar-me. Apetece-me amarrar os esgares de indiferença e tristeza, atá-los num molho e largá-los depois em labirintos de gargalhadas. Se é possível seguir-te? Não sei, mas apetece-me.

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Procura-se deslumbramento.

Estendi-te a mão
Sem medo, nem razão,
Sem questionar…
Restolhando, fui ficando
A dormitar, a querer ficar,
A seguir os teus passos,
A sorrir entre abraços,
Grata pelo momento.

(Reflexão: apetecia-me que as palavras descrevessem um facto)

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Prazo

Ontem fui ver o filme Julie and Julia e… fez-me bem. Não por ser um grande filme, porque não é. Também não foi pela história que também não impressiona por aí além. Claro que como conta com a maravilhosa e incomparável Meryl Streep no elenco despertou-me a curiosidade e confesso que me diverti a vê-la na pele daquela dedicada Julia Child tão especial e única. Mas o que realmente me marcou em relação ao filme foi o facto de a Julie conceder um prazo ao futuro, para a realização do seu pequeno sonho. Senti que era isso que eu deveria ter feito já há muito tempo. Afinal, se já fui capaz de arregaçar as mangas e ir atrás de um sonho, porque não voltar a fazê-lo?? E desta vez, com um prazo. É urgente reunir coragem e definir um prazo, caso contrário vou passar mais uma infinidade de semanas ou meses ou anos a deixar-me escorregar e a ficar aninhada na confortável facilidade do conformismo.

quarta-feira, janeiro 06, 2010

(In)tranquilidade

Divirto-me a imaginar que ainda sou capaz de me superar. Penso que não é um mau presságio. É sinal que consigo ainda ter alento para tentar melhorar, que considero natural e viável essa possibilidade. Mesmo quando não vislumbro nenhum sinal concreto de mudança.