sexta-feira, abril 30, 2010

Sustentabilidade

Não conheço a sustentabilidade dos meus dias. Limito-me a acreditar nela, como quem tem fé. Admiro-a, respeito-a e tento nunca a pôr em questão. Tratar-se-á de uma questão de organização do Universo e nisso não há possibilidade de interferência.

segunda-feira, abril 26, 2010

(Re)ver-te

Um jorro de luz em terreno fértil de imaginação, em solo ávido de grada. Saber-te aí mesmo se não reconheces o traço que delineia o meu sorriso.

segunda-feira, abril 19, 2010

Articulação

Repetem-se gestos, copiam-se frases, acenares de cabeça, trejeitos e até o jeito de falar. É preciso adivinhar o que lhes vai por detrás do esmalte que os faz brilhar. Gritamos e reclamamos mais franqueza, não sem antes sublinharmos a necessidade de não resvalar. É preciso seguir a linha que lhes orienta a locomoção com cuidado. Não soltar as pontas, manter na posição certa, saber quando curvar, saber quando inclinar. Articulam-se palavras que cremos não saber dizer, embalamos quimeras com canções de encantar e lá nos deixamos adormecer.

quinta-feira, abril 15, 2010

Cansaço

Descobrir que a dormência do cansaço cria amarras na minha concentração, que há garatujos de lápis-lazúli a ziguezaguearem à frente dos meus olhos e entorpecimento a ondear pelo meu corpo... Que cansaço rima com abraço, como árvore deveria rimar com sombra ou planícies com calmaria.

quarta-feira, abril 07, 2010

terça-feira, abril 06, 2010

Trajectos

E se há dias em que vemos claramente o caminho a seguir porque ele sempre esteve à nossa frente, outros há em que só vislumbramos encruzilhadas e labirintos. Vemos as dobras do caminho, as ervas daninhas que crescem de cada vez que pestanejamos, o quadrante da luz que desenha a nossa sombra, a direcção do vento que revolve o cabelo e recorta os movimentos. E gostamos do sentido que acompanha o percurso. Gostamos de saber que não sabemos se chegamos ao destino. Gostamos do descomprometimento da jornada e da flacidez que talha a articulação das nossas palavras. Calculamos diariamente os dias que faltarão para o próximo cruzamento, sequiosos de novidade, tementes do amanhã. Vivemos resguardados pela macieza do receio, pela certeza da exiguidade e da estreiteza dos dias. Sonhamos com singularidades de um trajecto que não pensamos percorrer. Reclamamos ideais que estão ao largo de um mar calmo mas que não tencionamos navegar, ou até ao alcance do nosso braço que não queremos estender. Prometemos mudar de vida, mas nem de sorriso mudamos…