sexta-feira, novembro 24, 2006

À mesa...


Olhou atentamente para o prato, para os convivas, para as mil e uma delícias que coloriam a mesa e aromatizavam a atmosfera e, lentamente, agarrou umas migalhas do prato que se encontrava à sua esquerda. Gostava de saborear devagar, de aproveitar até à última migalha.
Todos pareciam felizes, sorridentes, afáveis. Conversava-se sobre música, sobre flores e plantas aromáticas, medicinais, exóticas, sobre o Nobel da Paz, sobre esperança... Ela sorriu também. Voltou a agarrar em mais umas migalhas da travessa mesmo à sua frente. Hummm... Boa escolha, boa conjugação de sabores.
Ternura combinava sempre bem com inspiração.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Hoje não me recomendo...

Palavras de "Não queiras saber de mim" da dupla Rui Veloso/Carlos Tê que me soam tão familiares...

Não queiras saber de mim
Esta noite não estou cá
Quando a tristeza bate
Pior do que eu não há
Fico fora de combate
Como se chegasse ao fim
Fico abaixo do tapete
Afundado no serrim

Não queiras saber de mim
Porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim

Hoje não me recomendo
(...)

domingo, novembro 19, 2006

Esse azul...



Esse azul não é aquele de que te falava,
Não é a cor que me deixa liberta,
Solta em nuvens de bálsamos e poções mágicas…
Nem sequer é a tal sensação que me deixava a planar.

Esse azul entristece-me,
Traz-me subtilezas rodeadas de véus de frio,
Tiras de desconforto amarradas com biliões de fios glaciares.

domingo, novembro 12, 2006

Patinho feio: animal em vias de extinção.

De há uns tempos para cá (anos, talvez), um certo clã (maioritariamente feminino) impôs que os membros do sexo feminino deixassem de ter nome e apelido para passarem a ser todos chamados da mesma forma: "linda". Ora vejamos: quando nos ligam ou mandam sms, se nos encontram na rua, por acaso, os membros desse clã começam sempre as conversas por “olá linda…”; se lhes perguntarmos algo, a resposta começará invariavelmente por “linda, penso que …”. Como se, de repente, passássemos todas a ser iguais, tipo clones e ainda por cima todas lindas. Uma coisa terrivelmente aborrecida, diga-se de passagem...
No início, pensei que seria um pouco como as tendências da moda, numa estação toda a gente usa rosa choque ou castanho, ou toda a gente resolve pintar o cabelo de louro, ou usar micro saias. Agora, sinceramente, já não sei. A moda da "linda" parece que está para durar, por isso, fica um sério aviso ao patinho feio: toma cuidado contigo!

quinta-feira, novembro 09, 2006

Para quê…?


A alma queria criar raízes e não achava solo suficiente para se fixar, a imaginação queria perder as asas, mas não sabia caminhar, o calendário queria guardar os dias, mas deixava sempre que lhe arrancassem a folha no final de cada mês.

Reuniram-se, discutiram opções e soluções, procuraram aconselhamento e acabaram por chegar à conclusão que não há nuvens a atapetar veredas, nem ondas do mar no deserto, nem canteiros de hortenses na superfície lunar, por isso, para quê complicar?

domingo, novembro 05, 2006

Frugalidades

Eu quero...
Nuvens douradas em forma de torrada, para o pequeno-almoço
E chá verde de esperança para o Five o’clock tea.
Salada de frutos da imaginação para sobremesa,
E um café com aroma a beleza e meditação.

sábado, novembro 04, 2006

A voz

Ligou e desligou o telefone. Várias vezes.
Mas continuou a ouvir a voz que dizia: Ravina, sulco, penhasco, depressão, esgoto…
E repetia: Ravina, sulco, penhasco, depressão, esgoto…
Uma e outra vez sem parar: Esgoto, sarjeta, depressão, ravina, sulco, valeta…
Não conseguia livrar-se dela, esquecê-la, apagá-la.
A voz ganhou forma e acenou-lhe. Ele seguiu-a, sem porquês, sem receios, por um caminho sinuoso, ladeado de árvores que diziam em coro: Esgoto, sarjeta, depressão, valeta…Nada temia, caminhava a passo seguro, sentia que regressava a um lugar conhecido. A voz parou, levantou a mão e disse: Chegámos. Precisou de apenas alguns momentos para reconhecer o ambiente onde se encontrava: Esgoto, sarjeta, depressão, valeta