quarta-feira, maio 24, 2006

“Acho tão Natural que não se Pense”

Hoje dei por mim a pensar neste poema do nosso Alberto Caeiro.
Lindíssimo...


“Acho tão Natural que não se Pense”

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer cousa
Que tem que ver com haver gente que pensa ...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me cousas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .

Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas cousas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.

Alberto Caeiro



1 comentário:

Rafa disse...

Sem dúvida este poema me inspirou o suficiente para o resto da semana. Dá vontade de agarrar o Pessoa e dar beijinhos e fazer vénias...é incrível como un escritor tem o poder de transcrever aquilo que o cérebro de meio mundo pensa.
Quanto ao pensar e ao não pensar, aí está um dos meus maiores defeitos...E um dos teus também. Nao pensemos tanto amiga...Pra quê serve? Devemos pensar quando o pensamento nos ajuda em alguma acção ou a reconsiderar alguma atitude...mas agora, o simples conjecturar só por conjecturar...de nada serve. Gosto do teu blog. Está sóbrio. Como a dona.